Payment Expert Summit: é possível sobreviver sem o uso de inteligência artificial?

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Os laços entre diferentes indústrias tornaram-se cada vez mais estreitos nos últimos anos, impulsionados principalmente pela digitalização e pelo avanço tecnológico. Muitas empresas estão se classificando cada vez mais como empresas de tecnologia, mesmo que essa não seja sua principal área de atuação.

Isso acontece especialmente no setor de apostas e jogos on-line, que vem buscando maneiras inovadoras de incorporar tecnologia em suas ofertas nas últimas duas décadas. A tecnologia de pagamentos e tecnologias associadas, como a inteligência artificial (IA), estão tendo um impacto profundo em como as empresas de apostas conduzem seus negócios e interagem com os clientes.

No entanto, o mundo está em um ponto crítico no que diz respeito à IA. Diante de um cenário regulatório em mudança, como a introdução da Lei de IA da União Europeia, é hora dos operadores de apostas se adaptarem ou enfrentarem a extinção? Monika Grue, diretora de Conformidade Regulatória do LiveScore Group, empresa de apostas e mídia, diz que sim, com certeza.

“Nós também consideramos as empresas de jogos on-line como empresas de tecnologia”, disse ela no Payment Expert Summit. “Acho essencial estar atualizado com a tecnologia, com os últimos avanços tecnológicos, que podem ser usados para muitos propósitos.”

Os usos da tecnologia de IA têm sido amplamente discutidos e serão familiares para os leitores da Payment Expert. Prevenção de fraudes, combate à lavagem de dinheiro, automação geral de tarefas diárias e, para operadores de apostas em particular, KYC (conheça seu cliente) e identificação de problemas com jogos são alguns dos casos de uso mais notáveis e comentados.

Grue continuou: “Acho que há cada vez mais casos em que podemos usá-la [inteligência artificial] não apenas para identificar comportamentos problemáticos, mas também para interagir com os jogadores por meio de mensagens automatizadas ou enviar questionários”.

“Acho que mais e mais jogadores estão na verdade mais confortáveis em interagir com tecnologias do que em fazer uma chamada telefônica. Portanto, no interesse do jogo responsável, precisamos nos adaptar às tendências da tecnologia.”

No entanto, a IA ainda é muito nova. Apesar do rápido avanço nos últimos anos, os elementos regulatórios, tecnológicos e de responsabilidade da IA ainda precisam ser estabelecidos.

Na visão de Grue e de seus colegas de painel, em uma sessão intitulada “Compliance & AI: Ethical conundrum or progression?”, essa mudança será impulsionada pela indústria. Isso, é claro, não será exclusivamente conduzido pelo setor de jogos – a tecnologia e o setor financeiro terão papéis de liderança, sem dúvida –, mas os operadores de apostas e cassinos ainda terão sua parte.

“A tecnologia sempre vem primeiro”, disse Nick Maroudas, diretor global de Tecnologia da Kwiff, uma operadora de apostas do Reino Unido na África. “Regulamentar o setor, criar diretrizes, geralmente vem depois.”

“Não acho que já tenhamos chegado lá”, ele elaborou quando questionado sobre o potencial da inteligência artificial para o setor de apostas. “As coisas vão acontecer, as pessoas vão quebrar as regras, o governo e os reguladores vão definir os limites, alguém vai ultrapassar esses limites e eles vão intervir novamente. É um processo de refinamento, refinamento, refinamento.”

A adoção de novas tecnologias é frequentemente um jogo de espera para empresas como os operadores de jogos – é uma questão de aguardar que empresas focadas em tecnologia desenvolvam as soluções certas e que os reguladores estabeleçam estruturas e parâmetros sobre como essa tecnologia pode ser usada.

Como Grue, do LiveScore, destacou, as estruturas regulatórias são de alto nível – essas diretrizes vão estabelecer protocolos e riscos, com avaliações de risco e princípios gerais. Então, será responsabilidade dos operadores testar como diferentes tecnologias funcionam.

A regulamentação tem progredido a um ritmo razoável nos últimos anos. Mercados centrais como os EUA e o Reino Unido introduziram Institutos de Segurança de Inteligência Artificial, e na UE a Lei de IA já entrou em vigor. Embora o impacto total das regulamentações ainda esteja distante, os operadores devem prestar muita atenção em como as coisas se desenrolam.

Grue explicou: “Em algum momento, teremos que ter um regulador oficial de IA da mesma forma que temos um oficial de LGPD, mas isso será daqui a pelo menos cinco ou 10 anos. Haverá definitivamente uma necessidade de uma estrutura adequada, auditoria e relatório para algum regulador no futuro”.

É claro que, além da regulamentação, os operadores devem descobrir como a tecnologia pode ser adequadamente adaptada e utilizada para seus propósitos únicos. Os dados, um bem cada vez mais valioso para empresas de tecnologia, serão essenciais.

Steven Armstrong, fundador da FRL Compliance Solutions, empresa de consultoria de conformidade, compartilhou suas opiniões sobre dados, afirmando que para a IA “realmente funcionar, ela depende dos dados por trás dela”.

Ele elaborou: “Antes mesmo de chegarmos a uma fase de realmente confiar nela, a maioria dos operadores precisará revisar, limpar esses dados, garantir que sejam úteis e garantir que o sistema implantado possa aprender com eles”.

O desenvolvimento da IA para apostas e jogos on-line é um processo em etapas, continuou ele, observando que “alguns operadores estarão avançados e terão melhores dados”. Com o número de fusões e mudanças na propriedade e gestão que o setor de jogos vê, e com alguns operadores gerenciando várias marcas diferentes, surgirão desafios relacionados aos dados.

Uma questão importante em relação aos dados é garantir que eles sejam escolhidos para informar as capacidades de aprendizado da IA. Para lidar com as necessidades complexas da indústria de jogos, a IA não pode ser tendenciosa.

“Se você colocar lixo, sai lixo. Se você colocar viés, ele será tendencioso quando sair”, enfatizou Maroudas, da Kwiff.

O potencial da IA para o setor não passou despercebido nem por operadores, fornecedores, provedores de pagamentos ou consultores. A quantidade de trabalho a ser feita para aperfeiçoá-la também não passou batido pela indústria.