A expansão das apostas esportivas no Brasil, que começou em 2020, foi potencializada ainda mais com a recente lei aprovada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o setor, no final de dezembro de 2023. Com as regras finais a ponto de entrar em vigor, os operadores internacionais se preparam para entrar no país, que se apresenta como uma grande oportunidade para investir em fusões e aquisições (M&A), se os parceiros certos forem escolhidos.
Durante o SBC Summit Rio 2024, esse foi um tema de debate na conferência “M&A para entrar em novos mercados”, moderada pelo fundador e diretor-gerente do SBC Advisory Partners, Anton Kaszubowski. Junto a ele, Neil Montgomery, fundador e sócio-gerente do Montgomery & Associados, Dinos Stranomitis, diretor de Operações e co-fundador da Altenar, e Carla Dualib, gerente de Desenvolvimento de Negócios Regional da SOFTSWISS, analisaram as possibilidades para a indústria em médio e longo prazo.
Stranomitis iniciou a discussão fazendo um prognóstico sob sua perspectiva de casa de apostas e previu que apenas 8% dos atuais operadores no Brasil obterão licença para continuar trabalhando no novo mercado regulamentado. Dessa percentagem, disse que 90% entrarão em negociações para serem adquiridos por outra empresa e que apenas 0,8% continuarão a operar daqui a três anos.
Montgomery concordou e, do seu ponto de vista como especialista jurídico, observou que o novo regulamento é um marco que abre um grande potencial para fusões e aquisições, mas disse que “apenas 1% dos operadores sobreviverá nessa selva feroz”.
Além disso, destacou que a sigla de sua firma (M&A) é a mesma que a de fusões e aquisições e destacou que não é coincidência. Nesse sentido, disse que estamos diante de um “cenário ideal tanto para aquisições como para joint ventures (ou empresas conjuntas)”.
Montgomery destacou especificamente que o preço de R$ 30 milhões por uma licença pode levar os pequenos operadores a serem forçados a se fundirem com outras empresas para obterem os fundos necessários.
Referiu-se, ainda, à oportunidade que surge da exigência de que os operadores tenham, pelo menos, 20% de participação brasileira, o que, segundo analisou, tanto pode envolver pessoas físicas como empresas. Sobre isso, observou: “Se o Ministério das Finanças não concordar e considerar que é necessário que seja pessoa física, há argumentos legais para recorrer à Justiça, embora isso só atrase as coisas”.
“Em princípio, uma empresa estrangeira pode entrar no Brasil com uma estrutura de dois níveis: uma holding local e uma subsidiária para solicitar a licença, mas, tanto antes como depois, há muitas oportunidades de aquisições e de joint ventures”, explicou.
Para Stranomitis, a maioria das grandes empresas que chegam ao Brasil irá fracassar, e, nessa linha, Dualib enfatizou a importância de compreender o país, com suas particularidades políticas e sociais, sua volatilidade econômica e a complexidade de sua cultura: “o principal desafio é a tropicalização”, alertou.
“O Brasil não é para amadores”, acrescentou Montgomery, que também concordou com o palestrante da SOFTSWISS sobre a necessidade de contratar consultores locais que sejam fluentes no idioma para executar “devida diligência profunda e precisa”.
Também explicou que a natureza civil e codificada do sistema jurídico brasileiro proporciona a proteção da lei às empresas nos processos de M&A, ao invés de terem que contemplar cada eventualidade nos contratos como acontece nos sistemas anglo-saxônico.
De qualquer forma, Montgomery alertou que, ao adquirir uma empresa no Brasil, não se compra apenas seus ativos, mas também suas obrigações. Por isso, é necessário investigar tanto o passado das empresas quanto de seus proprietários, que podem causar problemas no encerramento das operações.
Sobre as negociações anteriores, Stranomitis também alertou que muitos operadores atuais são formados por pequenos grupos de pessoas que iniciam um empreendimento de apostas esportivas. Esse tipo de operação, disse ele, não despertará o interesse dos grandes players internacionais, que um dia “pegarão um jato lear da América do Norte e virão comprar a maior empresa, não importa o quanto peçam”.
No entanto, como já havia antecipado, garantiu que esta estratégia de M&A fracassará se não for negociada corretamente de como vão assumir o controle dessas operações em funcionamento e de como serão as mudanças na sua gestão, sem gerar descontentamento entre os funcionários que contribuíram para o seu sucesso.
“O Brasil tem uma cultura muito específica. Só fecharemos um acordo depois de, em primeiro lugar, estabelecermos um relacionamento”, acrescentou Dualib.
Sobre os ativos específicos que podem ser adquiridos antes do início da emissão das licenças federais, Montgomery explicou que o valor está na aquisição das marcas. De qualquer forma, alertou que a autoridade que registra as marcas só começou a aceitar empresas do setor de apostas recentemente – e o comprador deve investigar se está, de fato, registrada.
Ainda assim, em relação ao que torna uma empresa local atraente para compradores internacionais, os palestrantes concordaram que o domínio do inglês é fundamental para a negociação de acordos de M&A. Em adição, Stranomitis recomendou que, nas negociações, quando questionados se querem vender a sua empresa, “sempre digam NÃO”.
SBC Summit Rio 2025
O SBC Summit Rio estará de volta entre os dias 25 e 27 de fevereiro de 2025. Os detalhes sobre a segunda edição do evento estão disponíveis no novo site do SBC Summit Rio 2025.
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