Nesta terça-feira, 8, foi anunciado que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) investigará quanto os brasileiros gastam com apostas e jogos on-line. A área de Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) começará a pesquisa a partir de novembro.
Elizabeth Hypolito, diretora de pesquisa do instituto, disse que a POF também deve investigar o tempo de uso, impactos ambientais no domicílio e discriminação. Serão sete questionários na pesquisa, um deles voltado para o gasto com apostas. Os outros temas são voltados para alimentos, transporte, vestuário e medicamentos, por exemplo.
“Além do tema central da POF, que é investigar o rendimento e os gastos individuais do domicílio, vai trazer muitos outros temas. A gente tem pedidos que tratam dos impactos ambientais no domicílio, da satisfação com a vida sobre aspectos pessoais e financeiros e da discriminação sofrida nos seus mais diversos tipos, seja de gênero, orientação sexual, raça, etarismo, capacitismo homofobia e xenofobia”, relatou.
“As bets [apostas on-line] são recentes. Então, o que a gente fez foi alguma modificação no questionário, de tal forma que a gente possa captar as bets e possa captar também outras modalidades de jogos e apostas eletrônicas, porque nem tudo é caracterizado como bet”, disse Leonardo Oliveira, gerente da POF, em coletiva pública no Rio de Janeiro.
Como panorama da importância da POF, ela é a base que define a cesta de consumo das famílias, que é usada como referência no índice de inflação, como o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
A pesquisa é conduzida por questionários aplicados em uma amostra de 100 mil famílias brasileiras e em mais de 2 mil municípios. Desde 1970, a POF é que organiza a cesta de gastos. Conforme diferentes necessidades surgem, o IBGE atualiza a lista. Na última atualização do IPCA, em 2017-2018, o IBGE também avaliou preços de streaming e aplicativos de transporte (como Uber, 99, etc.).
A importância dos dados do IBGE para além do Banco Central
Nesta terça-feira, 8, Gabriel Galípolo, indicado à presidência do Banco Central pelo presidente Lula, admitiu ter tido uma desconfiança inicial com os dados apresentados pela instituição e afirmou que a regulamentação do setor não é papel da autarquia.
De acordo com Galípolo, cabe à autoridade monetária apenas analisar o impacto das apostas e jogos on-line na economia do país. “Eu confesso aqui que, nas primeiras reuniões, quando os números me foram apresentados, eu tive uma grande desconfiança. A cada reunião aqueles números iam se confirmando até chegar no montante que ficou público no estudo que o Banco Central fez.”
“O Banco Central não tem qualquer atribuição sobre a regulamentação de jogos e apostas, nossa função é muito mais tentar entender qual é o impacto disso em consumo, endividamento das famílias e como a gente consegue explicar a relação entre atividade econômica, despesas e o impacto na inflação”, acrescentou Galípolo.
O IBGE é o órgão de pesquisa oficial do país e grande influenciador em como o governo atua a partir dos gastos dos brasileiros. O instituto, sendo um dos cabeças para pesquisa no país, pode ditar o tom que o governo toma com relação ao mercado de apostas, especialmente a partir da regulamentação da indústria em 1° de janeiro de 2025.