Fazendo valer seu posicionamento como o último evento do Super Stage no SBC Summit o painel “The Big Question: What is next for the Gambling Industry?” tinha uma premissa muito simples e complexa ao mesmo tempo. Perguntar às participantes qual a expectativa de cada uma sobre a indústria de apostas esportivas e para onde ela deve caminhar nos próximos anos. A discussão teve Trudy Kerr, fundadora e produtora da The SHE Word, como mediadora.
A primeira a falar foi a portuguesa Monica Rangel, vice-presidente de estratégia e crescimento da A5 Labs, que compartilhou sua empolgação com as possibilidades criadas por Machine Learning e Inteligência Artificial: “Acredito que duas coisas vão acontecer. O aumento do uso de machine learning e IA em processos de CRM, que ajudarão a entender mais os jogadores, antecipando seus movimentos, conseguindo oferecer mais ao cliente e protegê-lo ao mesmo tempo. O uso dessas tecnologias para servir melhor o jogador, estendendo a duração da jogatina saudável, será uma das grandes mudanças da indústria”.
“O segundo ponto será a evolução do produto. Em apostas esportivas eu já vejo um grande crescimento vindo de e-gaming, crossovers entre esportes e gamers, como e-sports. No poker eu vejo o crescimento de sweepstakes nos próximos anos. É menos ameaçador, menos regulamentado e menos olhado de modo geral”, completou Rangel.
Aleksandra Sygiel, CRO (Chefe de Receitas) da Pinnacle, adotou uma linha um pouco menos otimista sobre a tecnologia: “Eu acho que é muito importante definir o que é Machine Learning e o que é IA. Muitas pessoas usam os termos como se fossem a mesma coisa, mas não é. IA Machine só poderá ter sucesso se tivermos dados de qualidade e em boa quantidade. Quando não temos dados, não conseguimos dados em segmentos importantes ou não temos dados de qualidade, não é possível ter sucesso. Quando falamos da indústria IA, parece que só colocar IA ao lado do nome já faz o preço da ação subir. IA tem que ser uma ferramenta, ela não pode substituir o seu modelo de negócio. Você ainda tem que saber como gerar receitas, a IA irá te ajudar a aumentar suas margens de lucro apenas.”
Clemence Dujardin, CEO do grupo My Affiliates, partilhou da opinião de Sygiel: “Nós temos que tomar cuidado para que IA não vire a próxima buzzword. Estou vendo muitos produtos dizendo que estão integrados com IA, mas o que, de fato, eles estão fazendo de positivo com a IA? Se for apenas para simplificar a entrega de dados, não vale a pena investir seu dinheiro nisso. Você tem que pensar: ‘Com que dados eu vou alimentar essa ferramenta de maneira que ela vai conseguir me fornecer respostas que eu não tenho ainda? Qual problema ele vai solucionar para mim?’ Se não for para responder esses questionamentos, é melhor gastar seu dinheiro de outra maneira.”
Lívia Troise, CEO da operadora brasileira Betmais, falou sobre as integrações práticas que realizou com inteligência artificial na sua plataforma: “Nós estamos tentando utilizar IA como co-pilot para o usuário e o serviço de suporte. Os dados são muito importantes, e você tem que tomar cuidado para não ser levado a acreditar no oposto do que os dados estão tentando te mostrar. No entanto, estamos tendo resultados positivos na implementação da ferramenta como co-pilot do usuário.”
A brasileira também compartilhou seus insights sobre o futuro da indústria de apostas esportivas: “Quando eu comecei a trabalhar no setor, um dos fundadores da empresa me disse: ‘a indústria das apostas é que nem a Blockbuster. É a mesma coisa há anos, precisamos de inovação’. Isso me marcou, porque eu acho que há muito espaço para inovação. Nós temos uma boa oferta de apostas esportivas e bons produtos de cassino, mas temos ainda pouca inovação na área de experiência do usuário.”
Regulamentações, oportunidades e escolhas
Quando perguntada, Sygiel citou as dificuldades que as diferentes regulamentações trazem e as escolhas que as empresas são obrigadas a fazer: “Existem duas grandes questões que precisam ser respondidas nos próximos cinco anos. Primeiro, os operadores terão que se perguntar: ‘O que nós não iremos fazer? Qual mercado não vamos entrar? Que acordo deixaremos de fazer? Que parceiro não teremos ao nosso lado? Qual apostador nós não queremos na nossa plataforma?’ Muitas empresas querem se tornar globais, mas esse não é um mercado global. Temos regulamentações domésticas, com barreiras de entrada mais altas.”
“Vocês comentaram sobre inovação, certo? Não há tempo, nem apetite para inovação quando é preciso estar de acordo com as regras de 20 regulamentações diferentes. Ninguém pensa no usuário, pensam apenas em não cometer erros.” completou Sygiel
Rangel apontou o aumento da ilegalidade como consequência da diferença entre as regulamentações: “O jogo ilegal, como vocês sabem, cresceu nos últimos anos. As novas tecnologias e ferramentas fizeram pouco para impedir isso, talvez tenham até ajudado a aumentar a parcela de jogo ilegal no mundo. Temos que pensar o que nós, operadores, podemos fazer em termos de consolidação, para trabalhar junto aos reguladores, tornando as diretrizes mais parecidas. Dessa maneira, não precisamos escolher quais mercados vamos operar ou não.”
Alerta para os riscos da consolidação na indústria
Em meio a discussões sobre tendências para o futuro, Sygiel alertou para um grande risco do setor: “O consumidor sempre estará em segundo ou terceiro lugar em uma indústria que não é competitiva. Uma indústria que passa pelo processo de consolidação se torna menos competitiva. Além disso, conforme as regulamentações vão saindo, as empresas são forçadas a correr para poder operar. Dessa maneira, o usuário fica em segundo lugar”
“Nós estamos perdendo o foco no usuário. Todos estão correndo, tentando deixar tudo pronto sem tempo hábil para isso. Quando não se tem tempo, o resultado não é positivo”, concordou Lívia Troise.
“Quando você vê grandes aquisições, elas não tem como foco o consumidor. Não tem como foco criar um melhor serviço. O objetivo é criar uma empresa capaz de seguir as tendências do mercado e gerar mais receitas” acrescentou Monica Rangel.
Sygiel falou também sobre as estratégias e os riscos por trás das estratégias de consolidação das grandes empresas: “Para ser justa com as grandes empresas, elas seguem uma estratégia que acreditam e tem como objetivo dar retorno para os investidores. Eles estão ganhando essa corrida, mas eles precisarão focar em breve na corrida pela rentabilidade também. Empresas que lidam com menos processos regulatórios estão vencendo essa corrida”
Perspectivas para o futuro a curto prazo
Na reta final do debate, tendo visto as ponderações positivas e negativa, Kerr questionou as participantes sobre as perspectivas para os próximos doze meses.
Troise se mostrou receosa quanto ao cenário brasileiro: “Eu quero me sentir otimista, mas preciso ser honesta. Estou bem nervosa quanto aos próximos 12 meses. Eu não sei nem o que esperar para o próximo mês. Tudo está mudando rapidamente no Brasil. Será um grande desafio para os operadores do Brasil no próximo ano”
Aleksandra Sygiel, por outro lado, optou por observar o lado positivo que um cenário de insegurança pode trazer: “Estou otimista para além dos próximos 12 meses. Eu acho que teremos volatilidade nos Estados Unidos e Brasil, mas não podemos nunca desperdiçar uma boa crise. Por conta disso, estou sempre otimista”.