Empresário ouvido em CPI no Senado admite manipulação de resultados

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Ontem, 8, durante depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas, o empresário William Rogatto admitiu ter participado de um esquema ilegal de apostas.

Investigado na Operação Fim de Jogo, do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e na Operação Jogada Ensaiada, da Polícia Federal (PF), Rogatto foi apontado como chefe do esquema que utilizou o Santa Maria para manipular resultados no campeonato brasiliense deste ano. Em depoimento, ele admitiu que enganou a presidente da Sociedade Esportiva de Santa Maria, Dayana Nunes.

“Quem me colocou para enganar a presidente da Santa Maria foi o próprio presidente da federação. Ele disse “vai ali que é frágil, não tem dinheiro, encosta. O marido infartou ou sei lá, a mulher não entende de futebol e precisa de investidor”. E eu vim a rebaixar o Santa Maria. Ela acabou sendo vulnerável a mim”, afirmou Rogatto.

Conhecido como “Rei do Rebaixamento”

Durante o depoimento, o empresário também afirmou ser conhecido como o “Rei do Rebaixamento” no meio, e disse que sua atuação causou o descenso de 42 equipes apenas no futebol brasileiro. Rogatto afirmou ter faturado cerca de R$ 300 milhões com a manipulação de resultados, que, segundo o mesmo, é praticada por ele desde 2009.

“Não roubei ninguém, não matei ninguém. Eu trabalhei em cima do sistema, o sistema é falho, a política não funciona. Achei uma brecha no sistema que me fortaleceu. Eu me considero um lambari pequeno demais, muita gente grande eu seguro nas costas, mas a gente cansa. Basicamente, eu engano o presidente do clube. Vou pagar ele para colocar os meus atletas. Aquele time vai perder, ele vai me beneficiar nas minhas apostas. Alguns presidentes sabiam e aceitavam. Eu rebaixei 42 clubes no Brasil. Eu só posso ganhar dinheiro com eles caindo.”

“Peguei dinheiro demais com os caras. Quando eu comecei, eu comecei sozinho, mas a ganância me dominou. Para isso eu tinha que colocar mais algumas pessoas no sistema, as pessoas viam que era lucrativo e centenas e centenas de empresários investiram em meu negócio. Eu tinha meus jogadores, meus atletas e entrava nos clubes, enganava alguns presidentes e alguns compactuavam comigo. O modus operandi é complexo, mas o básico é isso”, afirmou o empresário durante depoimento.

De acordo com Rogatto, a manipulação ocorre no futebol esportivo há muito tempo, e existem pessoas grandes envolvidas: “O sistema é muito além disso, os grandes não vão cair nunca. Estamos falando de dentro da CBF, de dentro das federações, tenho provas e vídeos. Isso não vai dar em nada, vai fazer vítimas do sistema e, no final, não vai acabar porque não é de agora. Isso existe há mais de 40 anos, eu fiz parte do sistema. Se eu tiver que pagar, vou voltar para o Brasil e pagar. Eu sou apenas uma ferramenta, o mundo do futebol é muito maior do que a gente pensa.”

Empresário afirma ter cooptado árbitros para o esquema de manipulação

Durante a CPI, Rogatto também afirmou que árbitros também participaram do esquema, e revelou os valores pagos por ele: “Tinha árbitros também. Tanto de confederação como da FIFA. Um árbitro hoje ganha em torno de R$ 7 mil por jogo, eu pagava R$ 50 mil para ele. O árbitro ganha pouco, o gatilho do futebol está na máfia que é a confederação, é a CBF, que tem recursos e não passa. É tão simples, é uma matemática tão perfeita, não vê quem não quer. Está tão feio que, como não acontece nada, o sistema não faz nada, você vem e oferece um dinheiro fácil. Isso é um gatilho da corrupção que temos no Brasil.”

Atuação em diversos países

Rogatto afirmou que sua atuação não se restringe ao futebol brasileiro e que, hoje, ele opera em diversos países: “Eu tenho nove países diferentes em apostas, eu pago caro para o atleta e também gosto de ganhar. Hoje eu uso nove países diferentes. Na semana passada eu fiz dois jogos na Colômbia, na primeira divisão. O sistema está fazendo que eu não pare.”

Empresário deu razão a John Textor

O empresário também defendeu John Textor, dono da SAF do Botafogo e que afirmou, sem provas, que houve manipulação de resultados em jogos da Série A do Campeonato Brasileiro. «Vocês falaram do John Textor, não é? Não sei as provas que John Textor tem, tá? Mas uma coisa eu posso falar: as pessoas que trabalharam para mim também trabalharam contra ele nesse campeonato, e as pessoas falam que não. Não estou aqui para enfrentar a Leila [Pereira, presidente do Palmeiras], não quero te enfrentar jamais, não estou falando que você fez ou não, está bom? Mas eu te garanto que o John Textor não está totalmente errado.”

Um dos jogos apontados por John Textor como manipulados a favor do Palmeiras foi a goleada alviverde por 5 a 0 sobre o São Paulo no Brasileirão de 2023. Questionado pelos parlamentares se ele acredita que houve manipulação na partida em questão, Rogatto afirmou: “É só opinião minha, tá? Está nitidamente, é só você olhar os gols. Pode não ter acontecido nada, mas é minha opinião. Eu confesso, apostei, de repente ainda tenho alguns bilhetes que posso te mandar, e eu ganhei. Muitas das vezes, os presidentes podem ser vítimas desinteressadas. Às vezes, dois jogadores desestruturam totalmente um jogo»