O mercado ilegal de apostas no Brasil representa uma perda anual estimada de até R$ 10,8 bilhões aos cofres públicos, é o que consta do estudo Fora do Radar: Dimensionamento e impactos socioeconômicos do mercado ilegal de apostas no Brasil, conduzido pela LCA Consultores com apoio do Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR), a partir de dados coletados pelo Instituto Locomotiva.
Segundo a pesquisa, entre 41% e 51% do mercado brasileiro de apostas ainda opera à margem da nova regulamentação em vigor desde janeiro deste ano. Apenas no primeiro trimestre, estima-se que o país tenha deixado de arrecadar entre R$ 1,8 bilhão e R$ 2,7 bilhões devido à atuação de plataformas não licenciadas.
“Esses números são impressionantes. Estamos falando de um impacto equivalente a pagar o salário de até 184 mil professores da educação básica ou construir 41 mil casas populares por ano”, afirmou Fernando Vieira, presidente executivo do IBJR.
“É um contrassenso: após estruturar um ambiente regulado, o governo aumenta a carga tributária para quem opera legalmente, favorecendo na prática o mercado ilegal”, ele continuou.
Vieira também destacou, em conversa com o SBC Notícias Brasil, a urgência de ações coordenadas para proteger o consumidor e a sustentabilidade da arrecadação: “Se o Brasil deseja um setor regulamentado, que gere empregos e arrecadação, é preciso dar condições para isso. Hoje, estamos penalizando o operador legal e deixando o ilegal operar livremente com promessas enganosas de lucro fácil”.
A pesquisa, feita com dois mil apostadores, revelou ainda outro ponto: a dificuldade dos consumidores em distinguir plataformas legais das ilegais. De acordo com os dados do Instituto Locomotiva, 78% dos entrevistados acham difícil identificar sites autorizados. Além disso, 72% admitem não verificar a legalidade das plataformas antes de apostar, e 46% já depositaram dinheiro em sites posteriormente identificados como fraudulentos.
Mais alarmante ainda é o dado de que 73% dos apostadores afirmaram ter utilizado plataformas ilegais ao menos uma vez em 2025 – porcentagem que é ainda maior entre pessoas de baixa renda e menor escolaridade. O estudo também aponta o uso de nomes parecidos com sites legais, domínios alternativos e publicidade com influenciadores como estratégias comuns das casas não regulamentadas.
“A confusão do consumidor é explorada deliberadamente por operadores ilegais. Precisamos de campanhas educativas e de uma ação rigorosa dos órgãos fiscalizadores”, defendeu Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva.
Eric Brasil, Diretor da LCA Consultoria, explicou que o foco deveria ser o combate ao mercado ilegal, tendo em vista que, reduzindo-o em 5 pontos percentuais, estima-se um aumento de R$ 870 milhões e R$ 1,1 bilhão de arrecadação em impostos.
IBJR: como identificar um site de apostas legal no Brasil
Desde a regulamentação, apenas sites licenciados pela Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA) podem operar legalmente no país. Entre os principais sinais de confiabilidade estão o uso do domínio “.bet.br” e o sistema de cadastro com reconhecimento facial e verificação de documentos. Essas plataformas também permitem que o apostador estabeleça limites de tempo e perdas financeiras, além de disponibilizarem mecanismos de autoexclusão. Para reforçar a segurança, só são aceitas transações via PIX e débito em conta do próprio titular, não sendo permitido o uso de cartões de crédito nem criptomoedas.
Todos os sites autorizados estão listados no portal oficial do Ministério da Fazenda.
A pesquisa ainda revelou que 87% dos apostadores defendem uma atuação mais incisiva do poder público contra as plataformas irregulares.
“O momento agora exige coordenação entre governo, sociedade civil e operadores licenciados. Se queremos proteger o cidadão, é preciso garantir que o mercado legal seja competitivo e seguro”, concluiu Fernando Vieira.