SBC Summit Rio 2025: combate a ameaças do mercado ilegal de apostas no Brasil

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Embora o Brasil tenha definido seu mercado em 1º de janeiro, com a entrada oficial em vigor da regulamentação em nível federal, a ordem e a transparência continuam ameaçadas por várias disputas jurídicas e pelo crescimento de plataformas ilegais.

Como foi avaliado durante o painel ‘Líderes do Brasil: inovação e adaptação estratégica’ do SBC Summit Rio 2025, operadores autorizados, sejam estrangeiros ou nacionais, têm a tarefa de competir em um mercado nascente, marcado pela transição do cinza para o branco, com muitos desafios pendentes.

O grande tamanho e a escala do Brasil exigirão que operadores se comprometam a investir bilhões em tecnologia, em operações localizadas, em publicidade, em Tecnologia da Informação (TI) e em conformidade. No entanto, para operadores licenciados, persistem dúvidas sobre se o regime de apostas será capaz de combater a ameaça persistente do jogo ilícito.

Primeiros dias e ajustes difíceis no Brasil

“Acredito que o principal desafio em nossa indústria será combater o mercado ilegal”, afirmou Alex Fonseca, CEO da multinacional Superbet, com sede na Romênia, que emergiu como uma das maiores empresas de apostas do Brasil após a regulamentação.

E detalhou: “Vimos um mercado não regulamentado que continua crescendo e que, de certa forma, tem acesso fácil a canais de mídia e a métodos de pagamento. Isso prejudica nossa capacidade de criar uma indústria regulamentada e mais forte. Esse é, provavelmente, o maior desafio, não apenas hoje, mas também para o futuro. Todas as empresas regulamentadas enfrentam esse desafio em maior ou menor grau”.

O consenso geral no SBC Summit Rio foi, como era de se esperar, que o lançamento do mercado de apostas do Brasil foi um passo necessário e positivo, tanto para a indústria quanto para a economia do país como um todo.

Ao considerar que o Brasil operou como um mercado cinza por várias décadas – com a falta de proteção eficaz para jogadores, de prevenção de lavagem de dinheiro e de fraude e de tributação eficiente – os desafios das primeiras etapas são evidentes.

A conscientização pública faz a diferença

A regulamentação não significa que o mercado ilegal desapareceu – e a dura verdade é que, provavelmente, nunca irá. Almir Ribeiro, diretor executivo da empresa de apostas BetMGM, com sede nos Estados Unidos e recentemente expandida para o Brasil, destacou que até mesmo os mercados regulamentados mais maduros ainda enfrentam desafios com a ilegalidade.

“Os reguladores precisarão evoluir para fechar as brechas, incluindo as brechas financeiras”, afirmou Ribeiro, compartilhando como a indústria e os órgãos reguladores, principalmente a Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA) do Ministério da Fazenda, deveriam combater a ilegalidade.

“Esse mercado [ilegal] sempre existirá, mas as autoridades reguladoras devem evoluir e atender ao que os clientes desejam. No final das contas, é a decisão do público para onde ele quer ir”, comentou o diretor.

O regime de apostas no Brasil ainda é jovem – tem apenas três meses – se comparado a mercados muito mais maduros, como o do Reino Unido, que tem mais de 60 anos. Nesse cenário inicial, as empresas licenciadas confiam no novo ordenamento e, segundo Ribeiro, “os brasileiros receberam a indústria de forma positiva”.

No entanto, a percepção pública desempenha um papel crucial. Os operadores temem que, nesses primeiros dias do mercado regulamentado, os consumidores não saibam diferenciar entre empresas licenciadas e ilegais. Esse cenário poderia manchar a imagem do setor regulamentado e dificultar o crescimento da indústria antes mesmo de ela alcançar seu potencial máximo.

Por esse motivo, colaborar com órgãos reguladores, como a SPA, para eliminar operações ilícitas é uma prioridade. Além disso, os stakeholders do setor também estão empenhados em garantir que a regulamentação não seja excessivamente restritiva, o que poderia sufocar o desenvolvimento do mercado legal.

“Precisamos combater as casas ilegais, pois elas impactam diretamente nosso mercado. Quando operam fora da lei, prejudicam a maneira como os brasileiros percebem nossa indústria”, analisou Rafael Borges, CEO do UX Group e da Reals, uma das primeiras empresas licenciadas no novo ambiente regulamentado.

“Além de combater as empresas ilegais, temos outra tarefa importante: manter um diálogo próximo com o governo. Precisamos garantir que a regulamentação não seja excessivamente restritiva, pois, se houver muita fricção para que usuários se registrem e depositem, aumentaremos significativamente o risco de empurrá-los para o mercado ilegal”, alertou Borges.

Observando outros mercados

Os players do mercado brasileiro estão observando exemplos de melhores práticas e lições aprendidas em outros mercados. Estados Unidos, Reino Unido, França, países nórdicos, Espanha e Itália são referências importantes, assim como alguns vizinhos da América Latina, como Colômbia e Argentina.

No entanto, durante os debates, também foram destacadas tendências regulatórias preocupantes em alguns desses mercados, como as restrições severas ao marketing observadas na Espanha, na Itália, nos Países Baixos, na Bélgica e no Reino Unido, ainda que em graus variados.

Essas restrições geralmente surgem em resposta às preocupações do público sobre a saturação da publicidade de apostas nos esportes, o impacto social do jogo problemático e a possível correlação entre ambos.

No Brasil, assim como em outros mercados analisados, o setor regulamentado defende que o marketing desempenha um papel essencial ao direcionar consumidores para operadores licenciados, que oferecem altos padrões de proteção ao jogador, em vez de plataformas ilegais e menos seguras.

“O impacto poderia ser fatal”, alertou Alex Fonseca, CEO da Superbet, ao comentar sobre possíveis restrições severas à publicidade e como operadores brasileiros podem evitá-las por meio de um marketing mais responsável.

“Vimos na Espanha a proibição total de iniciativas de marketing porque operadores estavam sendo muito agressivos. Precisamos pensar bem na nossa mensagem para clientes”, acrescentou Fonseca.

Fonseca também destacou que os dias “fora de controle” do mercado cinza no Brasil chegaram ao fim, citando como exemplo influenciadores digitais que promoviam o jogo como uma “forma de investimento”.

Se o setor de apostas regulamentado no Brasil deseja garantir a sustentabilidade em longo prazo, há muitos pontos a serem considerados. 

“O conceito de apostas precisa estar associado ao entretenimento, não como um investimento ou uma maneira de ganhar dinheiro”, reforçou o CEO da Superbet.

Essa é uma mensagem crucial para o futuro do mercado brasileiro. Aprender com outros países será fundamental, e as lições aprendidas precisam ser implementadas o quanto antes, especialmente nos quesitos de marketing responsável, de proteção ao jogador e de comunicação eficaz.

Se a indústria regulada quiser vencer a batalha contra empresas ilegais, é necessário agir rapidamente – quanto antes, melhor.