Mercado de apostas no Brasil: estratégias e perspectivas

Mercado de apostas no Brasil: estratégias e perspectivas

O Brasil emergiu como um mercado de apostas extremamente relevante para a indústria de apostas. Enquanto o governo do país considera implementar restrições aos métodos de pagamento, outros desafios iniciais relacionados às novas regulamentações também estão presentes.

Tatiana García Barrenechea, diretora Comercial para a América Latina na Light & Wonder; Thomas Smallwood, diretor Comercial da ESA Gaming; Izabela Słodkowska-Popiel, chefe de Gerenciamento de Contas para América do Norte e América Latina na Wazdan; Helena do Couto, diretora Jurídica Regional para América Latina na Eeze; Álvaro Camargo, country Manager Brasil na Xtremepush; e Thiago Calmon, gerente de Vendas On-line na R. Franco Digital, participaram da mais recente mesa redonda do CasinoBeats, site irmão do SBC Notícias Brasil.

Os profissionais abordaram os fatores críticos para alcançar o sucesso e compartilharam uma visão sobre como o mercado brasileiro pode se desenvolver.

CasinoBeats: Quais são os fatores essenciais que os operadores devem considerar ao elaborar uma oferta lucrativa que atraia jogadores e apostadores? Qual a importância da personalização local?

Tatiana García Barrenechea, Diretora Comercial para a América Latina na Light & Wonder

Tatiana García: Sem um histórico de cassinos físicos, o Brasil exige uma abordagem personalizada para os conteúdos, e será interessante identificar as tendências iniciais que surgirão com a regulamentação do mercado.
Acreditamos que certos tipos de jogos terão grande apelo para um amplo segmento de jogadores no país, como os crash games. Esses jogos oferecem entretenimento rápido, imprevisível e envolvente, além de serem simples de entender, especialmente para jogadores menos familiarizados com experiências complexas de slots.
Nossa análise também aponta que jogos de vídeo bingo serão um grande sucesso, assim como slots de três rolos, que são acessíveis e atrativos.

Thomas Smallwood: Escolher os parceiros locais certos é fundamental. Nosso sistema agregador de jogos é projetado para atender ao mercado local, não apenas em relação aos fornecedores, mas também à experiência que podemos oferecer.
Temas relevantes e jogos populares, como nossos jogos de mineração, que já tiveram grande sucesso no Brasil, podem fazer uma diferença significativa.
A fidelidade dos jogadores será essencial, especialmente em um mercado onde os impostos impactam operadores, fornecedores e jogadores. Operadores que utilizarem técnicas inovadoras de vendas cruzadas, como nossos jogos EasySwipe integrados ao widget de apostas esportivas, poderão converter jogadores de esportes para cassinos sem canibalizar as receitas existentes.

Izabela Słodkowska-Popiel, Chefe de Gerenciamento de Contas na Wazdan

Izabela Słodkowska: Para desenvolver uma oferta lucrativa na América Latina, os operadores devem priorizar as preferências e demografia dos jogadores, ajustando conteúdos e promoções para cada região específica.
A personalização local é essencial: adaptar-se a diferentes regulamentações, métodos de pagamento preferidos e padrões de jogo responsável ajuda a fortalecer a confiança dos jogadores. Uma abordagem regional sólida não só melhora a credibilidade como também impulsiona o crescimento sustentável em longo prazo.

Helena do Couto: Além de analisar dados de comportamento atual dos jogadores, é essencial que os operadores se apresentem de forma que cativem, conectem e construam confiança.
Ao comparar o Brasil com a Europa, seu território cobre aproximadamente 80% do tamanho de todo o continente. Apesar de ser apenas um país, é crucial que os operadores explorem a diversidade cultural de cada região, o que ajuda os jogadores a se sentirem reconhecidos.
A predileção brasileira por descontos e brindes reflete-se na preferência por bônus. A conexão com os jogadores também pode ser aprimorada ao integrar a marca do operador em elementos já familiares ao público.
A confiança será construída com licenças locais, regras claras para os jogos e um serviço de atendimento eficiente, considerando o forte sistema de proteção ao consumidor do Brasil. Além disso, é essencial contar com um portfólio que mescle os jogos mais populares no país com lançamentos inovadores.

Álvaro Camargo: Esta é uma ótima pergunta. Entrar no mercado com serviços e produtos bem-sucedidos em outros países é uma estratégia razoável, mas é vital lembrar que estamos lidando com um público muito específico.
É necessário entender o cliente e a forma como as coisas funcionam no Brasil. Há hábitos locais e diferenças culturais que impactam significativamente a relação dos consumidores com marcas e operadores.
Também é importante reconhecer que os brasileiros são clientes impulsivos e emocionais. Equipes de suporte bem estruturadas e níveis de serviço de qualidade são essenciais para permitir depósitos rápidos, interações dinâmicas e incentivos em tempo real, mantendo os jogadores engajados.

Thiago Calmon: Para ter sucesso na competitiva indústria de jogos e apostas, os operadores devem priorizar uma experiência de usuário perfeita. Isso inclui otimizar interfaces de sites e aplicativos para garantir navegação intuitiva e acessibilidade.
Além disso, é essencial oferecer opções de pagamento flexíveis, adaptadas às preferências locais, aumentando a conveniência para os usuários e construindo confiança.
A personalização do conteúdo é igualmente crucial; entender interesses locais, como esportes favoritos e nuances culturais, permite que os operadores se conectem de maneira mais eficaz com seu público.
Promover práticas de jogo responsável é fundamental para estabelecer uma marca confiável. Isso não só fortalece a lealdade dos jogadores, como também contribui para a integridade e sustentabilidade da indústria.

CasinoBeats: Por fim, com relatos de que o Brasil não será tão lucrativo para os operadores quanto inicialmente previsto, qual é sua visão ideal para o futuro do mercado regulado no país?

Thomas Smallwood, Diretor Comercial da ESA Gaming

Thomas Smallwood: Minha visão ideal para o mercado regulamentado de iGaming no Brasil é aquela que busca um equilíbrio sustentável para todas as partes envolvidas — operadores, fornecedores, jogadores e reguladores. Para os reguladores, isso não deve se limitar a bloquear sites não autorizados; é essencial criar um ambiente onde os operadores regulamentados possam prosperar.
Essa abordagem beneficiaria os jogadores, manteria a integridade da indústria e garantiria o crescimento de longo prazo. Um ecossistema equilibrado, onde a regulamentação não sufoca as oportunidades, faria do Brasil um exemplo líder na América Latina e além.
Além disso, isso poderia levar o Brasil a se tornar um polo para empresas que buscam estabelecer presença corporativa para atingir a região mais ampla da América Latina e reduzir o impacto dos impostos retidos na fonte.

Izabela Słodkowska: O futuro ideal para o mercado regulamentado no Brasil deve buscar um equilíbrio entre lucratividade justa e crescimento sustentável.
Isso inclui processos de licenciamento simplificados, taxas de impostos moderadas e soluções de pagamento flexíveis. Um ambiente assim incentivaria investimentos, aumentaria a competitividade do mercado e serviria como referência para práticas regulatórias na América Latina, promovendo confiança e crescimento na região.

Helena do Couto, Diretora Jurídica Regional na Eeze

Helena do Couto: Depende das expectativas de lucro que foram estabelecidas anteriormente. Há, naturalmente, uma diferença entre o período anterior à regulamentação e o que começará em 1º de janeiro de 2025, mas o Brasil continuará sendo uma força importante no setor de apostas.
Quanto à minha visão ideal, imagino uma indústria reconhecida por todos pelo que ela é: uma forma de entretenimento. As pessoas entenderão que regulamentação — e não proibição — é o melhor caminho.
As regulamentações serão consolidadas, as discussões sobre interpretação de regras serão minimizadas quase a zero, os dados publicados por instituições e pela mídia serão precisos, e poderemos focar toda nossa energia na melhoria do produto e da experiência do jogador.


Álvaro Camargo: Temos uma estrutura tributária única, o que apresenta um desafio para empresas que entram no mercado. O governo levantou muitas questões que impactarão a lucratividade, mas é necessário entender que tudo gira em torno de escalabilidade.
No mercado pré-regulamentado, havia pequenas operações lucrativas que gastavam pouco em marketing e seguiam o caminho da afiliação. Com a nova estrutura, as margens que existiam já não existem, o que significa que as empresas precisarão ser grandes. Caso contrário, será muito difícil atingir a lucratividade.
É aqui que o engajamento do cliente se torna inestimável, interagindo com os jogadores existentes da maneira certa. Se os operadores obtiverem dados altamente relevantes sobre seus clientes e os utilizarem de forma eficaz, conectando-se no momento certo, isso pode gerar muito mais valor do que perseguir novos jogadores.

Thiago Calmon, Gerente de Vendas Online na R. Franco Digital

Thiago Calmon: Na indústria de apostas, é crucial entender que, embora os lucros iniciais possam não atender às expectativas, um mercado bem regulamentado pode trazer benefícios significativos a longo prazo. Estabelecer um ambiente transparente protege os jogadores e incentiva a competição justa entre operadores.
Regulamentações claras aumentam a confiança, promovendo práticas de jogo responsável e instilando confiança nos stakeholders. Essa transparência atrai investimentos, pois estabilidade e integridade são atrativas para investidores.
Para o Brasil, criar um mercado confiável não apenas beneficia os operadores locais, mas também aumenta sua competitividade global. Apoiar a inovação por meio de regulamentações sólidas garantirá que a indústria atenda às expectativas dos consumidores, respeitando padrões éticos e contribuindo para a sustentabilidade e o crescimento de longo prazo do mercado de apostas no Brasil.

Tatiana García: O Brasil é o maior país da América Latina e, com uma população de 250 milhões de pessoas, o potencial para a nossa indústria florescer é enorme. É muito importante que, dentro do mercado regulamentado, os jogadores tenham acesso à maior variedade possível de conteúdos, atendendo a todos os segmentos.
Isso ajudará nos esforços de canalização, permitindo que operadores brasileiros ofereçam entretenimento divertido, diversificado e, acima de tudo, seguro e protegido. Estou otimista de que esse será o caso quando as regulamentações entrarem em vigor no início do próximo ano.
Este é um momento muito empolgante, e esperamos continuar trabalhando com os operadores, junto com nossas equipes comerciais e de jogos, para garantir que este seja um mercado de muito sucesso para a Light & Wonder.