Papo de Craque: o futuro dos eSports no Brasil

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Os eSports têm ganhado cada vez mais popularidade no Brasil e no mundo. Em 2024, o mundial de League of Legends (LoL) teve uma audiência média de 1,73 milhão de espectadores, com pico de 6,94 milhões. O jogo conta com uma popularidade tão grande que se tornou, recentemente, série animada na plataforma de streaming Netflix.

Com uma infinidade de jogos e torneios para se apostar, o mercado de eSports está se tornando atrativo até mesmo para o público comum. Cada vez mais, é comum ligar a televisão e ver um torneio de Counter Strike, Dota ou League of Legends sendo televisionado. Isso, claro, sem contar as milhares de transmissões na Twitch e no Youtube.

Esse aumento pode ser visto também nos sites de apostas esportivas. Um número cada vez maior de plataformas oferecem possibilidades de apostas em campeonatos de eSports, refletindo o aumento na demanda por esse tipo de oferta. Campeonatos de Counter-Strike e League of Legends podem ser vistos, muitas vezes, nas páginas principais das plataformas, com grande destaque.

Para entender mais sobre o futuro da modalidade no agora regulamentado mercado de apostas esportivas e jogos on-line do Brasil, o SBC Notícias Brasil conversou com Carlos Gama, Vice-Presidente de Games e eSports na Assespro-RJ e Maria Luíza Cavalcante Lima, fundadora e CEO da ABC-Bet (Associação Brasileira de Conformidade, Boas Práticas, Ética e Transparência em Apostas Esportivas).

Eles, que serão palestrantes no painel ‘Aposte no eSports: as tendências atuais x a regulamentação futura’ durante o SBC Summit Rio 2025, compartilharam insights sobre o momento da indústria no país e também deram uma prévia do conteúdo que será abordado nesta sessão do evento.

SBC Notícias Brasil: Em relação à regulamentação das apostas em e-sports, como o Brasil se encontra em comparação a outros países?

Maria Luíza Cavalcante Lima: No momento, o Brasil se coloca numa posição intermediária sobre a regulamentação de  apostas em eSports, pois a Portaria MESP nº 125, de 30 de dezembro de 2024, incluiu apenas  aqueles reconhecidos pelo COI, tornando-se mais restritiva em comparação com países como  os Estados Unidos e a Coreia do Sul, onde há uma maior liberdade para a inclusão de  diferentes modalidades de e-sports. 

Carlos Gama: Na comparação com outros países, o Brasil ainda está em recente processo de regulamentação das apostas em eSports (esportes eletrônicos). Após a regulamentação em 2023, o país está trabalhando para estabelecer normas e diretrizes claras para a prática. É importante ressaltar que cada país possui suas próprias políticas e regulamentos em relação às apostas nos eSports.

Enquanto alguns países como Alemanha e Portugal possuem restrições significativas, outros como Inglaterra e Coreia do Sul permitem as apostas sob regulamentações estritas. Nos Estados Unidos, a regulamentação varia de estado para estado, e na China, as restrições são severas. Com o crescente interesse no mercado de eSports no Brasil, é fundamental que as novas regras, anunciadas no dia 30 de dezembro de 2024, estejam garantindo a proteção dos jogadores e a transparência nas operações de apostas.

SBC Notícias Brasil: A Portaria MESP nº125 regulamentou as modalidades que podem receber apostas esportivas. Os e-sports, como esperado, estavam lá, mas apenas os reconhecidos pelo COI. Regulamentar apenas os e-sports regulamentados pela entidade olímpica é limitador de alguma maneira?

Maria Luíza Cavalcante Lima: Sim, pois exclui muitas outras modalidades populares que ainda não têm reconhecimento olímpico. Isso pode desincentivar a diversidade e o crescimento do mercado de apostas em eSports no Brasil, além de limitar as opções para os apostadores; e mais, trazer riscos para o próprio sistema que se torna vulnerável a inúmeras formas de manipulação. 

Carlos Gama: Na minha opinião, a Portaria n° 125 do Ministério do Esporte representa um passo inicial para abrir o diálogo com o mercado de esportes eletrônicos no Brasil. Grandes equipes nacionais como MIBR e Imperial eSports, que participam de competições profissionais, são patrocinadas por casas de apostas. No entanto, é importante considerar que o Comitê Olímpico Internacional já definiu que as Olimpíadas de eSports terão modalidades de três categorias: esportes físicos disputados em plataforma virtual; simuladores de esportes; e games de eSports, desde que alinhados aos valores olímpicos.

O COI ainda não reconheceu oficialmente nenhuma modalidade de eSports, embora já tenha definido que teremos 6 (seis) edições dos Jogos Olímpicos dos Esportes na Arábia Saudita. Os eSports atualmente representam 6,1% das apostas esportivas no Brasil, ficando em terceiro lugar, atrás do futebol em primeiro com 84,2% e do basquete em segundo com 7,2%, de acordo com dados do Bônus Pro – Aposta Hub. As modalidades mais populares são Counter Strike 2, League of Legends (LOL) e eFootball.

É fundamental que o Governo Federal continue comprometido em fomentar e proteger os esportes eletrônicos, garantindo a segurança dos atletas e apostadores. Todos os envolvidos, desde entidades promotoras de campeonatos até equipes, atletas e desenvolvedores de jogos, devem participar ativamente das discussões com o Ministério do Esporte sobre a atualização da Portaria com inclusão de novos games.

A evolução e aprimoramento da regulamentação, juntamente com o combate à lavagem de dinheiro e à manipulação de resultados nos eSports, são questões que devem ser abordadas com responsabilidade e justiça. O momento requer um diálogo contínuo e colaborativo para garantir um ambiente seguro e transparente para o futuro promissor dos esports no Brasil.

SBC Notícias Brasil: Quais melhorias poderiam ser feitas na regulamentação para melhor atender às apostas  realizadas em e-sports? 

Maria Luíza Cavalcante Lima: De pronto, a expansão da lista de modalidades autorizadas para apostas, além da criação de um órgão regulador específico para eSports, e a implementação de medidas mais rigorosas de fiscalização e combate à manipulação de resultados. Dada a complexidade de uma mudança mais profunda, entendo que a inclusão de modalidades de eSports de grande popularidade (mesmo que não reconhecidas pelo COI), poderia aumentar a competitividade e a diversidade  do mercado. 

Carlos Gama: Para melhor atender às apostas realizadas em eSports, é essencial estabelecer dentro do diálogo com o Ministério do Esporte, as publishers dos jogos, os atletas, os organizadores de campeonatos, os atletas, representantes das equipes, Confederações e Federações de esportes eletrônicos e as casas de apostas. Este diálogo deve abordar a responsabilidade de cada envolvido no desenvolvimento dos esportes no país. 

É fundamental compreender as especificidades do esporte eletrônico, que possui uma natureza digital e valores significativos nos direitos autorais dos criadores dos games, mas também está intrinsecamente ligado à interação humana. A relação entre os diversos atores envolvidos precisa ser discutida de forma constante para garantir a transparência e a ética nas apostas em eSports.

As melhorias na regulamentação devem considerar a possibilidade das apostas se tornarem fonte de recursos para fomentar o desenvolvimento do esporte eletrônico no Brasil. Todos esses aspectos devem ser amplamente debatidos com os principais interessados e com toda a sociedade brasileira. A colaboração e o entendimento mútuo são essenciais para evoluir na regulamentação e garantir um ambiente justo e seguro para as apostas esportivas nos eSports.

SBC Notícias Brasil: Qual o nível de aceitação e engajamento do público com as apostas em eSports? Você vem notando um aumento de interesse por parte do brasileiro?

Maria Luíza Cavalcante Lima: De um modo geral, o engajamento do público com as apostas em e-sports no Brasil tem aumentado significativamente nos últimos anos. A popularidade crescente dos torneios e a presença de grandes marcas no mercado contribuem para esse crescimento. Os brasileiros estão cada vez mais interessados em apostar em e-sports, especialmente em modalidades como League of Legends, Dota 2 e Counter-Strike. 

Carlos Gama: A aceitação e o engajamento do público com as apostas em eSports têm crescido significativamente no Brasil. Atualmente, o esporte eletrônico representa a terceira maior modalidade de apostas no país, com cerca de 6,1% de todas as apostas esportivas realizadas. O público demonstra um profundo conhecimento das modalidades, sendo verdadeiros fãs das equipes e demonstrando interesse nos conteúdos produzidos sobre seus ídolos no eSport.

No entanto, é fundamental que esse crescimento seja sustentável e respaldado pela integridade. A regulamentação deve proteger tanto os apostadores que buscam diversão quanto os atletas profissionais, garantindo um ambiente seguro e transparente para as apostas. É necessário fornecer todo o suporte aos atletas, implementar campanhas de combate à manipulação de resultados e conduzir investigações rigorosas em casos suspeitos.

SBC Notícias Brasil: O governo tem realizado ações para promover os eSports no Brasil? Quais ações podem ser realizadas para impulsionar a modalidade no país?

Maria Luíza Cavalcante Lima: A regulamentação das apostas e a inclusão de eSports em eventos esportivos oficiais foi uma importante iniciativa do governo brasileiro. No entanto, é essencial trazer mais investimentos em infraestrutura, criação de programas de formação para jogadores e técnicos, e parcerias  com empresas do setor para promover o desenvolvimento dos eSports no país. E, principalmente, a criação de um ecossistema propício a debater e assegurar a conformidade das atividades que permeiam os negócios do mundo gamer. 

Carlos Gama: Desde 2023, o governo brasileiro tem demonstrado um crescente interesse em promover os eSports no país. O Ministério do Esporte, sob a gestão do Ministro André Fufuca, reconheceu a importância de criar uma Diretoria de eSport para cuidar dos esportes eletrônicos, e essa diretoria foi estabelecida em julho de 2024. Além disso, diversos governos estaduais e municipais, assim como órgãos legislativos como a Comissão do Esporte na Câmara de Deputados e a Comissão de Esporte do Senado, têm realizado reuniões e discutido oportunidades para impulsionar os eSports em todo território nacional.

É possível observar diversas iniciativas em todo o país, como a atuação da Secretaria Estadual de Esporte e Lazer no Rio de Janeiro, com a lei de incentivo ao esporte em parceria com a Federação Estadual do Rio de Janeiro de Esportes Eletrônicos (FERJEE), a criação de coordenadorias e órgãos específicos voltados para os eSports no município do Rio de Janeiro e no Distrito Federal. Além disso, há fomento e patrocínio público em cidades como Maricá no Rio de Janeiro, Manaus no estado do Amazonas, São Paulo no estado de São Paulo, Natal no estado do Rio Grande do Norte, e incentivos fiscais e programas de bolsas atleta para jogadores de esports, como o exemplo do atleta de eFootball Gabriel Franja no município de Macaé, no estado do Rio de Janeiro.

Os desafios a serem superados são grandes e os esportes eletrônicos vão gerar oportunidades de novas profissões e mais infraestrutura para milhões de jovens em todo Brasil. A implementação efetiva de políticas públicas de apoio e fomento, a regulamentação mais abrangente e a expansão de programas de incentivo precisam ser prioridades para impulsionar ainda mais o desenvolvimento dos eSports. A colaboração entre as esferas federal, estadual e municipal e o engajamento contínuo com as comunidades de eSports são fundamentais para o progresso e a consolidação dessa modalidade no país.

SBC Notícias Brasil: O que o público pode esperar do painel Aposte no eSports: as tendências atuais x a regulamentação futura?

Maria Luíza Cavalcante Lima: O painel tratará de como a indústria está evoluindo, quais são os desafios enfrentados e quais  são as oportunidades para o crescimento do mercado. Também será abordado o impacto das  regulamentações existentes e as possíveis mudanças que poderiam ser implementadas para  melhorar o ambiente de conformidade no mercado de apostas. 

Carlos Gama: O painel promete oferecer uma análise profunda e abrangente sobre os desafios e perspectivas da regulamentação das apostas esportivas nos esports. Será um espaço dedicado a reunir diferentes tópicos relacionados a esse tema complexo. A regulamentação das apostas em eSports representa um desafio significativo, semelhante ao que foi enfrentado anteriormente com as apostas esportivas.

Com um mercado em expansão e um potencial promissor, é essencial adotar uma abordagem cuidadosa e estratégica para evitar possíveis consequências negativas e garantir um ambiente regulatório sólido para o desenvolvimento saudável do setor. O painel visa destacar a importância do diálogo entre diferentes partes interessadas, incluindo o governo, os reguladores, as empresas do mercado de apostas e os próprios atletas.

SBC Notícias Brasil: Por fim, quais são seus objetivos e perspectivas para o SBC Summit Rio?

Maria Luíza Cavalcante Lima: Meus objetivos para o SBC Summit Rio são compartilhar conhecimentos sobre tendências  regulatórias para o e-sports, promover a integridade e transparência no mercado, e discutir  soluções para os desafios enfrentados pela indústria. Espero que o evento seja um espaço de  troca de ideias e colaboração para o desenvolvimento sustentável do e-sports no Brasil e no mundo. Será uma honra apresentar a proposta da ABC-Bet sobre como podemos contribuir para a conformidade do bet-gaming responsável no Brasil. 

Carlos Gama: A minha participação como palestrante e painelista no SBC Summit Rio pelo segundo ano consecutivo será extremamente enriquecedora. Os debates e discussões abordados nos diversos painéis proporcionam um vasto conhecimento e insights valiosos. Além disso, o evento oferece uma oportunidade única para expandir a rede de contatos e estabelecer conexões significativas no mercado.

Este ano, o SBC Summit Rio promete ser ainda maior do que em 2024, e acredito que seja uma das melhores oportunidades para compreender o mercado de apostas esportivas no Brasil e na América Latina. Minhas expectativas são de sair do evento com um aprendizado aprimorado, com novas ideias e soluções inovadoras, e com um olhar renovado para o futuro do setor.