A pandemia da desinformação e da conveniência: o problema de não regulamentar a indústria no Brasil

apostas esportivas no Brasil

O SBC Noticias publicou hoje (quarta-feira, 13) artigo de opinião sobre a situação atual do processo de regulamentação da indústria de apostas esportivas no país. Confira a íntegra do texto abaixo.

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Já ficou claro que o mercado brasileiro é o mais esperado globalmente. Poucas palavras bastam para descrever a importância do país sul-americano para toda a região e para o setor, tanto em termos econômicos quanto em sociais.

Nos primeiros meses de 2023, logo após a posse de Luiz Inácio Lula da Silva para atuar em seu terceiro mandato como presidente do Brasil, as conversas e as iniciativas legislativas foram retomadas para avançar com o que daria origem a uma indústria de mais de US$ 6 bilhões.

No entanto, estas tentativas não vieram para dar continuidade ao que Bolsonaro não concluiu, e, sim, da surpresa que atingiu a indústria ao surgirem vários escândalos de manipulação de resultados em categorias inferiores do futebol brasileiro, como os casos ocorridos na Série B.

Todas as explicações lógicas indicam que a maneira de evitar a manipulação de resultados é por meio da regulamentação, da educação e da proteção do jogador. Nada pode ser resolvido se a indústria ficar na sombra.

Então, por que há cada vez mais mensagens na mídia local justificando que as apostas afetariam os jovens, aumentariam a manipulação das partidas e teriam um efeito negativo no esporte?

Newsflash, as apostas existem, são legais e, graças à lei, vão continuar a existir. Defender a proibição só ajudará os jovens a continuar acessando serviços que não são direcionados a eles, os jogadores não estão protegidos e o país não recebe um centavo da indústria.

As opiniões são gratuitas, a informação também, e o perigo de continuar a desinformar e criar uma narrativa falsa é muito caro.

O fato de mídias de prestígio como O Tempo publicarem estatísticas inverificáveis ​​e de outras mídias encherem as manchetes com fatos distorcidos é um grande perigo para o Brasil e para a indústria de jogos em geral, que já carrega um estigma negativo.

O Brasil deve se apressar em aprovar um marco regulatório que dê ao esporte, aos players do mercado e, principalmente, aos jogadores as ferramentas mais adequadas para melhorar a situação atual.

O jogo existe desde sempre, e nenhuma campanha de lobistas na mídia fará com que desapareça. Na pior das hipóteses, o setor continuará desregulamentado, sem dar condições dignas aos atores e sem trazer benefícios ao Estado.

Seria conveniente consultar se a mídia acredita que jogadores como Joseph, zagueiro do time da Série B do Tombense, cujo contrato foi rescindido por participação em manipulação de resultados, não participaram deste tipo de atividade por desconhecer às penalizações a que estão sujeitos ou se continuarão a fazê-lo sabendo que não existe um organismo que monitorize oficialmente as apostas.

Também seria favorável questionar a mídia sobre o que acha que aconteceria se não existisse um marco legal e um evento como o de Ferreira, jogador do Grêmio que divulgou apostas em suas redes sociais após um acordo com a casa patrocinadora do clube, Esportes da Sorte.

No máximo, a legalização do setor em 2018 e a iminente regulamentação estão contribuindo para trazer estas questões à tona.

De acordo com a Real Academia Espanhola (RAE), desinformar é o ato de fornecer informações intencionalmente manipuladas a serviço de determinados fins, embora também signifique fornecer informações insuficientes ou omiti-las.

No caso do Brasil e de todas as pesquisas que foram divulgadas recentemente, poucos dados foram citados de fontes oficiais ou de associações de mercados com dados há muito analisados.

Em um mundo em que toda informação está à disposição de quem quiser encontrá-la, é preciso destacar também o significado de conveniência, que remete à utilidade e ao lucro, coisas que, sem dúvida, são utilizadas por diversas partes contrárias à indústria. A questão, então, é: quem se beneficia? Quem se prejudica?