O Cipriani Ocean Resort & Club é um ambicioso projeto de cassinos em Punta del Este, no Uruguai, localizado na parada 12 da praia Brava, onde antes funcionava o hotel San Rafael. Em abril, foram captados U$ 190 milhões em financiamento para dar continuidade à construção do hotel, cassino, centro de convenções e da primeira de três torres residenciais do megaprojeto que pretende abrigar o edifício mais alto da América Latina.
Giuseppe Cipriani, CEO do Grupo Cipriani, concedeu uma entrevista à Forbes Uruguai para confirmar que o novo cronograma de obras prevê que o resort seja inaugurado “em setembro ou outubro de 2026”, conforme reportado pelo portal SBC Noticias.
Além disso, o executivo revelou que solicitou permissão para operar com um cassino on-line no projeto de Punta del Este, o que atualmente não é permitido no Uruguai.
“É como se você tivesse um telefone de 1986, sem internet. O que faz com esse telefone? Nada. É a mesma coisa. Hoje, a tecnologia e o on-line são fundamentais para o negócio. Não é algo que, se não acontecer, ainda haverá negócio. É preciso ter isso”, afirmou.
Cipriani explicou que todos os cassinos do mundo operam tanto fisicamente quanto on-line.
“Acredito que este governo vai resolver isso. Temos o maior investimento já feito neste país. Cumprimos com tudo, então acreditamos que o país também vai cumprir”, acrescentou o empresário italiano.
Brasil ainda engatinha na legalização de cassinos físicos
Enquanto países vizinhos como Uruguai e Argentina já aproveitam a expansão do mercado de cassinos, o Brasil ainda parece engatinhar e se prender aos fantasmas do passado moral para restringir a regulamentação no país – que já é um dos maiores mercados do mundo em apostas e jogos on-line.
O senador Irajá Abreu, relator do projeto da Lei dos Cassinos, como é conhecida, já afirmou em entrevista ao portal que o Brasil foi na contramão de outros países e optou por primeiro regulamentar os jogos on-line, e somente depois focar nos cassinos físicos, jogo do bicho e bingos.
Enquanto isso, senadores entram em embate sobre a legalização dos cassinos. Parlamentares religiosos demonstraram-se contrários ao texto, e a bancada evangélica no Senado já afirmou que tentará impedir a aprovação do PL.
“Vamos tentar impedir de todas as formas”, declarou o senador Carlos Viana (Podemos-MG), presidente da Frente Parlamentar Evangélica no Senado, à coluna do Estadão.
A senadora Damares Alves (Republicanos-DF), vice-presidente do grupo, reforçou: “Vamos trabalhar muito contra isso, mas muito mesmo”.
Enquanto isso, a Polícia Federal já mudou de opinião duas vezes. A CNN Brasil publicou uma reportagem sobre a mudança de posicionamento da Polícia Federal (PF) em relação à legalização de cassinos físicos no Brasil.
Inicialmente, a PF havia demonstrado-se a favor da aprovação do Projeto de Lei (PL) nº 2.234/22, que visa legalizar o funcionamento de cassinos e de bingos físicos em território nacional. No entanto, no final de 2024, a PF enviou outra nota ao gabinete com o novo posicionamento da corporação, assinada pelo mesmo delegado.
De acordo com a PF, a corporação não havia analisado as consequências da legalização de cassinos físicos no Brasil quando enviou o primeiro documento. Como justificativa, a PF esclareceu no documento: “O texto [PL dos Cassinos] leva a crer que haveria elementos suficientes de controle, mas, na verdade, legaliza condutas que se servem à prática de atividades criminosas”.
Maioria dos brasileiros não considera proibição algo eficaz
Segundo uma pesquisa do DataSenado, a maioria (¾) dos brasileiros entrevistados considera a proibição dos cassinos físicos ineficaz – apenas ¼ dos entrevistados afirmou que é capaz de reduzir significativamente a oferta dos jogos ilegais.
Mais de 50% das pessoas acredita que a legalização dos cassinos aumentará a arrecadação de impostos do Brasil, enquanto que um pouco mais de 20% afirma que não faria diferença e 9% acredita que haveria a redução nos valores arrecadados.

“As apostas no Brasil representam uma prática cultural profundamente enraizada, presente na identidade do país, com tradições que incluem, por exemplo, o jogo do bicho, loterias e bingos”, afirmou Vitória Lopes, advogada entrevistada pelo SBC Notícias Brasil.
“No entanto, essa mesma prática é vista por muitos como uma ameaça à moralidade e aos bons costumes, frequentemente criticada por sua suposta capacidade de incentivar comportamentos prejudiciais ou desestruturar valores sociais. Essa dualidade reflete a relação ambivalente que a sociedade brasileira mantém com as apostas: de um lado, um elemento cultural legítimo e historicamente consolidado; de outro, alvo de críticas que enfatizam preocupações morais e sociais, muitas vezes em detrimento de uma abordagem mais racional”, concluiu.
É inegável que o futuro de cassinos no Brasil depende, em certos pontos, da avaliação moral por trás dos tomadores de decisão, que têm princípios que variam em questões individuais e com consequências diretas ao conjunto populacional do país.